segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O ser e a metafora

Já havia divagado que quando o verão chegasse, seria um tempo de mudanças. Primeiro veio a chuva e o medo de suas conseqüências, o nível do rio subia mais a cada dia, as noticias que vinham do sul não eram nada animadoras. As infiltrações tomaram conta da casa, eu temia pelo céu, ou o teto, cair sobre nossas cabeças. Depois da chuva o sol amarelo de campos apareceu e com ele veio o mormaço, a umidade. Os livros sobreviveram, mas não havia tecido cujo cheiro de mofo não castigasse as narinas, as paredes manchadas pelo bolor, os restos de comida cobertos por fungos “penicilinicos”. Os insetos se apoderaram da casa e tal como nos contos de Garcia Márquez se fizeram presentes pelos seus barulhos ou por sua aparência asquerosa.


O realismo fantástico não parou por ai. Sr Welinton, homem de nome difícil de pronunciar e jeito difícil de lidar, era uma pessoa mais larga do que alta, cuja transpiração nos fazia crer que o mormaço podia ocasionar conseqüências piores em algumas pessoas. Comentavam pela vizinhança que as bactérias encontradas em seu estomago e seu problema cardíaco eram os principais responsáveis pela intensificação de seu comportamento áspero com as pessoas. Logo, uma conta de luz atrasada foi o estopim de seu descontentamento com aqueles que haviam “quilombolizado” a velha casa que ele alugava na margem do Rio Paraíba.


Seus locatários eram pessoas diferentes que falavam esquisito e tinham hábitos estranhos, praticavam rituais xamanicos que mistificavam o lugar em que viviam, eram capazes passar horas em ‘transe’ quando entravam em contato com seus livros sagrados e de ter as opiniões mais enérgicas quando seu conselho de sábios se reunia para decidir sobre algo controvertido. A vida era tranqüila, até que veio o estopim, e com ele a expulsão, o nomadismo. Questões causadoras de divergências ocultas na monotonia cotidiana emergiram, explodiram, a guerra interna se aproximava, mas a sabedoria quilombola foi transcendente e seus seguidores, pessoas iluminadas pelo seu saber e pela paz decidiram buscar suas raízes. Os quilombolas, como que em uma diáspora se espalharam pelo mundo e ainda hoje esperam o momento de se reunir e professar seu aprendizado, praticar seus rituais e buscar novamente a elevação de seu espírito.

Um comentário:

  1. Ai que coisa lindRa e profunda... Meinos do meu coração... Vou sentir saudades de todos vc's... Estou num período nostálgica, acho que pq acabei de fazer minha mudança de Campos... Mas tudo bem... O que me consola é que ainda andarei de conquistense, pegarei muito sol quente na moleira, sentirei o agradável cheio de vinhoto e estarei sob muitas chuvas de foligem... dentre outras coisas mais... Mas, decididamente, estar com vc's não tem preço!!!
    uia, menti agora heim?! Brincadeiras!!!!
    Beijos!

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